Dentro de uma igreja em Rio Claro, interior de São Paulo, Altino Cristofoletti e Expedito Arena se encontraram pela primeira vez. Ainda adolescentes, compartilharam o desejo de cursar engenharia e “mudar o mundo” – como bons jovens sonhadores. “Acreditávamos piamente nisso”, diz Arena, cinco anos mais velho que seu amigo, com humor. “Eu fiz curso técnico, consegui um emprego e comecei a pagar minha faculdade.” Alguns anos depois, Cristofoletti seguiu os mesmos passos e se graduou como engenheiro civil. Hoje, os dois estão à frente da Casa do Construtor, que faturou R$ 328 milhões no último ano.
Embora o momento atual seja de tranquilidade e sucesso, a renda milionária não foi alcançada da noite para o dia. “Nossa batalha para conseguir pagar a faculdade foi parecida. Fizemos todos os tipos de bico, de entregas a datilografia”, conta Arena. Para ele, que cresceu ajudando seu pai no serviço de pedreiro, o diploma era mais do que um simples papel. “Meu pai tinha apenas 20% da visão, então, ele me levava junto nas construções para que eu o ajudasse a enxergar. Eu, com sete anos, era seus olhos no trabalho. Soube desde a infância que a engenharia era o caminho certo a seguir”, relembra.
No entanto, os jovens se formaram logo após o chamado milagre econômico, início dos anos 1980, fase em que a engenharia decaiu por conta da ascensão dos técnicos, que cobravam mais barato por não terem graduação. “Não encontrávamos emprego. Nossa solução foi começar a prestar serviços gerais. O famoso marido de aluguel”, revela Cristofoletti. “Podemos dizer que nós empreendemos por necessidade. Coloquei anúncio no jornal da cidade, uma caixa de ferramentas em cima da moto e comecei a trabalhar. Não era bacana para uma pessoa formada, mas era o que dava”, completa Arena.
Após algum tempo fazendo bico, os dois tentaram investir em um negócio próprio – até então, separados. “Tínhamos empreiteiras, mas elas não estavam dando certo”, explica Cristofoletti que, nesse período, teve seu primeiro contato com o mundo das franquias. “Em 1992, eu li no jornal que os correios estavam criando uma rede de franquias pública. Não conhecia nada sobre o assunto, mas decidi ir atrás”, relembra. “Me aprofundei na temática do franchising e comecei a pensar em como implementar esse conhecimento na área de construção.” Mais do que uma franquia dos correios, o jovem saiu do processo com uma nova ideia na cabeça.
Com conhecimento sobre o setor, entrou em contato com Arena, com quem já discutia sobre a possibilidade da locação de materiais de construção ser rentável. Sendo assim, com o aprendizado que cultivou nas aulas de franchising, por que não criar uma franquia de aluguel de máquinas e ferramentas? – uma sociedade entre amigos, é claro. Foi nesse ponto que a vida dos amigos de infância começou a mudar. “A necessidade de sobrevivência fez com que a gente desenvolvesse competências. Precisávamos ser autodidatas para entender contabilidade e logística, por exemplo”, completa Cristofoletti.
Começaram a passos lentos, sabendo que a franquia só seria possível após uma boa gestão. Toda noite, antes de ir para casa descansar, os dois sentavam para discutir a operação da empresa, que batizaram de Casa do Construtor. “Nos instalamos em uma avenida de grande movimento e começamos a comprar vários materiais. Quando o dinheiro começou a apertar, pegamos emprestado com familiares”, diz Arena. “Imagine duas pessoas sem recursos criando um negócio de capital intensivo. Você só consegue crescer comprando mais máquinas. Tudo que recebíamos, íamos reinvestindo.”
O dinheiro era contado e, dessa forma, cada compra era feita com o maior critério possível. “Uma vez, comprei um martelo que custava o valor do meu Fusca na época. Eu tinha medo de deixar na loja e alguém roubar, então levava para casa e colocava dentro do carro”, conta Arena. “Quando minha esposa queria visitar alguém, eu morria de medo de deixar o Fusca e o martelo sozinhos na rua. Imagina se roubassem os dois?”, questiona entre risadas.
Você precisa fazer log in para comentar.